Efeitos de Simpatia dos Convulsionários
Efeitos de Simpatia dos Convulsionários à Época da Codificação: Uma Análise Espírita
A Doutrina Espírita, desde a sua codificação por Allan Kardec, oferece uma visão profunda e esclarecedora sobre os fenômenos espirituais e os efeitos que as forças magnéticas exercem sobre os seres humanos. Um dos aspectos fascinantes abordados por Kardec é o estudo dos efeitos magnéticos e a ação das simpatias, especialmente no que diz respeito aos convulsionários e às crises nervosas, fenômenos que se manifestaram com grande destaque na época da codificação.
A questão 482 de “O Livro dos Espíritos” trata exatamente de um fenômeno que chamou a atenção de estudiosos e investigadores na época, e continua a ser objeto de análise profunda para os espíritas. Esta pergunta, em conjunto com a resposta dada pelos Espíritos e as observações de Allan Kardec, fornece uma explicação relevante para o entendimento do que acontecia quando uma crise de convulsão, normalmente associada a estados anormais do corpo e da mente, se espalhava por uma população de maneira súbita e em grande escala.
A Pergunta 482 e a Resposta Espírita
A questão 482 de “O Livro dos Espíritos” indaga: “Como é que sucede estender-se subitamente a toda uma população o estado anormal dos convulsionários e dos que sofrem de crises nervosas?” A resposta dos Espíritos é direta e elucidativa:
“Efeito de simpatia. As disposições morais se comunicam mui facilmente, em certos casos. Não és tão alheio aos efeitos magnéticos que não compreendas isto e a parte que alguns Espíritos naturalmente tomam no fato, por simpatia com os que os provocam.”
Essa resposta aponta para a ideia de que os estados emocionais e psíquicos das pessoas, principalmente os de caráter negativo ou perturbador, são extremamente contagiosos. O efeito magnético que se estabelece entre os indivíduos, baseado na simpatia, permite que esses estados se espalhem facilmente, especialmente quando estão envolvidos fatores espirituais. Em outras palavras, os espíritos desencarnados podem ser atraídos por essas disposições morais de desequilíbrio, intensificando ainda mais os fenômenos.
O termo “simpatia” é aqui utilizado no sentido de uma afinidade ou conexão energética que se estabelece entre os seres humanos, que pode ser provocada por sentimentos ou estados mentais semelhantes, ou até mesmo por energias espirituais que buscam se comunicar ou influenciar aqueles que estão mais vulneráveis. Esse fenômeno de comunicação magnética é uma das chaves para compreender a propagação das crises nervosas ou convulsões em populações inteiras.
A Nota de Allan Kardec
Na nota que Allan Kardec acrescenta a essa questão, ele aprofunda a explicação sobre as faculdades dos convulsionários, que se manifestam com grande intensidade e em um contexto coletivo. Kardec observa que os convulsionários, assim como os magnetizadores, muitas vezes se encontram em um estado de sonambulismo desperto, provocado pela influência que exercem uns sobre os outros, seja de maneira consciente ou inconsciente. Ele explica:
“Entre as singulares faculdades que se notam nos convulsionários, algumas facilmente se reconhecem, de que numerosos exemplos oferecem o sonambulismo e o magnetismo, tais como, além de outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, a transmissão das dores, por simpatia, etc. Não há, pois, duvidar de que aqueles em quem tais crises se manifestam estejam numa espécie de sonambulismo desperto, provocado pela influência que exercem uns sobre os outros. Eles são ao mesmo tempo magnetizadores e magnetizados, inconscientemente.”
Kardec demonstra que os convulsionários estão em uma espécie de transe ou estado alterado de consciência, no qual suas faculdades sensitivas são ampliadas. Nesse estado, eles podem se tornar receptivos à influência magnética de outras pessoas, tanto encarnadas quanto desencarnadas. Ao mesmo tempo, também atuam como “magnetizadores”, transmitindo suas próprias energias e emoções para os outros, criando um ciclo de influência mútua.
A observação de Kardec destaca a complexidade do fenômeno, indicando que o convulsionário, ao mesmo tempo em que é magnetizado, também exerce uma forma de magnetismo sobre os outros, o que pode levar à expansão de um estado emocional ou psicológico perturbador por toda uma população. Esse processo é muito semelhante ao que se observa em fenômenos de massa, onde uma ideia, um sentimento ou um estado emocional se espalha rapidamente entre as pessoas, como uma “epidemia” emocional ou psíquica.
O Comentário do Espírito Miramez
O comentário do Espírito Miramez, na obra “Filosofia Espírita”, oferece uma explicação mais detalhada sobre o efeito magnético por simpatia. Miramez utiliza o exemplo dos espetáculos de faquires na Índia, onde os praticantes entram em transe hipnótico e realizam feitos extraordinários, como suportar dor extrema ou se isolar da alimentação, apenas pelo poder do pensamento. Ele diz:
“São muito comuns os espetáculos dos faquires, que na Índia existem em profusão. Eles se isolam perfeitamente pela vontade, se auto-hipnotizando, podendo ficar meses sem se alimentarem, e mesmo serem crucificados em praça pública. Deus permite esses fatos para mostrar à humanidade o quanto se pode fazer pela força do pensamento.”
Miramez, Filosofia Espírita
Miramez utiliza esses exemplos para ilustrar como os seres humanos podem, de fato, atingir estados extraordinários através da força do pensamento e da vontade. O fenômeno dos convulsionários, como observado por Kardec, é uma manifestação dessas capacidades magnéticas latentes nos seres humanos, que podem ser amplificadas por condições psicológicas e espirituais específicas.
O espírito também menciona que, ao se isolarem do sofrimento físico e mental, muitos indivíduos buscam esse tipo de experiência como uma maneira de testar seus limites, sem compreender completamente as leis espirituais que regem esses fenômenos. Essa busca por poder e controle, muitas vezes alimentada pela vaidade, é um dos primeiros estágios do desenvolvimento das faculdades espirituais, que, com o tempo, podem ser direcionadas para propósitos mais elevados, como a caridade e a transformação moral.
A Influência dos Espíritos e a Espiritualidade
Miramez enfatiza que a verdadeira evolução do ser humano não deve se concentrar na exploração de poderes magnéticos ou em feitos extraordinários, mas sim no desenvolvimento moral e espiritual. A sugestão do espírito é clara: os espíritas devem se afastar das más influências e focar na reforma íntima, cultivando a bondade, a paciência e a compreensão. Ele explica que a batalha mais importante ocorre dentro de nós mesmos, e que a verdadeira cura espiritual vem da aplicação do bem em nossas vidas diárias.
A Doutrina Espírita, portanto, não apenas explica o fenômeno das crises de convulsões e os efeitos magnéticos por simpatia, mas também oferece uma direção moral e espiritual para aqueles que se encontram em situações de desequilíbrio. O espírita é convidado a estudar essas dinâmicas de maneira profunda, não apenas para compreender os efeitos magnéticos e psíquicos, mas também para transformá-los em oportunidades de evolução.
Conclusão: A Lição de Evolução Moral
Ao analisarmos os efeitos de simpatia dos convulsionários à época da codificação, podemos perceber que esses fenômenos não são apenas manifestações psíquicas ou espirituais, mas também lições profundas sobre as leis da moral e da espiritualidade. O estudo desses efeitos nos convida a refletir sobre nossas próprias disposições morais e como elas podem influenciar os outros ao nosso redor, seja de maneira positiva ou negativa.
A Doutrina Espírita nos oferece um caminho para o autoconhecimento e a transformação moral, nos convidando a viver de acordo com os ensinamentos de Jesus, praticando o amor e a caridade, e aplicando nossas energias de forma construtiva. Os efeitos magnéticos, como as simpatias e as influências espirituais, podem ser poderosos, mas, quando direcionados para o bem, podem se tornar instrumentos de cura e evolução para toda a humanidade.