Afeição dos Espíritos
Preferências de Afeição dos Espíritos
No estudo da Doutrina Espírita, uma das questões mais instigantes é a forma como os Espíritos interagem com os encarnados. Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, aborda de maneira esclarecedora essa dinâmica na pergunta 484: “Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas?”. A resposta dos Instrutores Espirituais, complementada pelo valioso comentário do espírito Miramez, nos oferece um vasto campo de reflexão sobre as afinidades espirituais, suas causas e consequências.
Este artigo busca explorar esse tema, com o objetivo de trazer mais compreensão àqueles que desejam aprofundar-se na ciência e na filosofia espíritas.
A Pergunta 484 e sua Resposta
À pergunta 484, “Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas?”, os Instrutores Espirituais respondem:
“Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem. Os Espíritos inferiores com os homens viciosos, ou que podem tornar-se tais. Daí suas afeições, como consequência da conformidade dos sentimentos.”
Essa colocação sintetiza uma das leis mais significativas das relações espirituais: a afinidade. Os Espíritos, sejam eles elevados ou inferiores, estabelecem laços conforme as inclinações morais e emocionais daqueles com quem convivem. Essa afinidade não é fruto do acaso, mas sim da sintonia vibratória, que conecta indivíduos com pensamentos e sentimentos semelhantes.
A Análise de Miramez: Afeições e Afinidades
O espírito Miramez, em seu comentário sobre a pergunta, aprofunda a reflexão ao destacar que a afeção é “filha da afinidade”. Ele explica que as vibrações espirituais entre os indivíduos geram laços de união ou repulsa, de acordo com o estado íntimo de cada um. Aí reside a grande lei de justiça e amor, que rege todas as relações, tanto no plano material quanto no espiritual.
Segundo Miramez, as relações de afeção são fundamentais para o crescimento moral. Ele afirma:
“A analogia dos sentimentos levar-nos-á a conhecer a nós mesmos. As pessoas que se afeiçoam conosco, e nós com elas, nos mostram em profundidade o que somos realmente.”
Miramez, Filosofia Espírita
Essa colocação nos conduz a uma autoanálise profunda. Aquele que deseja progredir espiritualmente deve observar os tipos de relações que nutre e, a partir delas, identificar os aspectos que necessitam de aprimoramento.
Afeições entre Encarnados e Desencarnados
O relacionamento entre encarnados e desencarnados também segue a lei de afinidade. Os bons Espíritos se aproximam daqueles que demonstram esforço no caminho do bem, enquanto os Espíritos inferiores encontram eco em indivíduos que cultivam vícios ou sentimentos desarmônicos.
Contudo, conforme ressalta Miramez, os Espíritos superiores não nos abandonam, mesmo que não estejamos integralmente alinhados com o bem. Eles atuam pela caridade, auxiliando-nos a superar nossas fraquezas.
Esse comportamento reflete o exemplo do Cristo, que veio ao mundo para amparar os enfermos da alma. Jesus dedicou-se com maior intensidade àqueles que necessitavam de cura espiritual, mas sem negligenciar os que já caminhavam ao seu lado na senda do bem. Seu colégio apostólico era formado por indivíduos que, embora imperfeitos, compartilhavam do desejo sincero de evoluir.
A Lei da Afeição como Instrumento de Justiça e Amor
A afinidade espiritual não é apenas uma conexão emocional ou moral, mas também um mecanismo pedagógico. Quando nos encontramos cercados por indivíduos com determinadas características, somos chamados a refletir sobre nossas próprias tendências. Se estivermos rodeados por contendas, é sinal de que algo em nós ressoa com essa vibração. Nosso dever, então, é trabalhar para eliminar essas inclinações negativas e cultivar a harmonia.
Ao mesmo tempo, quando recebemos a assistência de bons Espíritos, temos a oportunidade de reforçar os laços com o bem e nos inspirar em sua conduta elevada. Essa relação de mãos dadas entre encarnados e desencarnados é essencial para o progresso coletivo.
O Papel da Afeição na Transformação Moral
Afeições não devem ser vistas apenas como laços agradáveis, mas como oportunidades de aprendizado e crescimento. Miramez nos convida a olhar para as relações como espelhos de nossa própria alma. Ao identificar imperfeições nos que nos cercam, somos instados a corrigir essas falhas dentro de nós mesmos.
Por outro lado, a presença de indivíduos moralmente elevados em nosso convívio é um convite à ascensão. Essas relações inspiram o bem e fortalecem nosso compromisso com a reforma íntima. Assim, a lei da afinidade torna-se um poderoso instrumento de justiça divina, ao nos colocar em contato com aqueles que contribuem para nosso aprimoramento.
Autoanálise e o Caminho para o Bem
Miramez oferece um conselho prático e profundo:
“Se queres conhecer-te a ti mesmo, olha os que estão ligados ao teu coração, que mais ou menos saberás quem és.”
Essa abordagem de autoanálise é fundamental para o progresso espiritual. Ao identificar a natureza das relações que cultivamos, podemos avaliar nossa própria condição moral e definir metas de melhoria.
Conclusão
A pergunta 484 de “O Livro dos Espíritos” e o comentário do espírito Miramez nos convidam a refletir sobre a importância das afinidades espirituais em nossas vidas. Essas relações não são apenas frutos do acaso, mas instrumentos divinos para nosso crescimento. Os bons Espíritos se aproximam de nós para nos inspirar e auxiliar, enquanto os inferiores refletem as sombras que ainda precisamos dissipar.
Assim, cabe a cada um de nós cultivar pensamentos, sentimentos e ações que atraiam as vibrações superiores, transformando as nossas relações em laços de amor e crescimento. Que possamos, como sugeriu Miramez, colocar as mãos ao trabalho e prosseguir na direção da luz, conscientes de que Deus está sempre com aqueles que se esforçam para melhorar.