20 de agosto de 2025

A Indulgência Segundo José

Por O Redator Espírita
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A Indulgência Segundo José, um Espírito Protetor

Entre as virtudes que a Doutrina Espírita nos convida a cultivar, a indulgência ocupa lugar central, não apenas como prática moral, mas como ferramenta essencial de progresso espiritual. No capítulo X de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec reúne orientações de Espíritos iluminados sobre a misericórdia, a compaixão e a capacidade de compreender as fraquezas humanas.

No item 16, intitulado A Indulgência, encontramos uma mensagem assinada por José, Espírito Protetor, ditada em Bordéus no ano de 1863. Essa instrução, embora concisa, encerra em si um tratado moral profundo, apontando caminhos práticos e espirituais para que aprendamos a conviver com os defeitos do próximo sem julgar ou condenar, mas sim compreendendo, amparando e corrigindo com doçura.

Neste artigo, buscaremos analisar, de forma minuciosa, os ensinamentos de José, explorando cada nuance do texto. Mais do que uma leitura superficial, proporemos reflexões que nos ajudem a perceber como aplicar a indulgência no cotidiano, em nossas relações sociais, familiares e mediúnicas, assim como no íntimo de nossa consciência.

Nosso objetivo é compreender que a indulgência não se limita a uma atitude externa, mas revela o grau de maturidade espiritual que conquistamos diante das imperfeições humanas.

O significado da indulgência

José inicia sua mensagem afirmando:

“Espíritas, queremos falar-vos hoje da indulgência, sentimento doce e fraternal que todo homem deve alimentar para com seus irmãos, mas do qual bem poucos fazem uso.”

A indulgência, aqui, não é apenas tolerância passiva. É uma postura ativa de fraternidade. O Espírito a chama de “sentimento doce e fraternal”, o que já indica sua essência: suavidade, compreensão, empatia.

Enquanto a justiça humana busca a reparação de faltas, a indulgência espiritual busca compreender os motivos que levaram o indivíduo a errar. Trata-se de enxergar além da aparência exterior e perceber que cada ser humano se encontra em processo evolutivo.

No entanto, José alerta: “bem poucos fazem uso” desse sentimento. Essa constatação, feita em 1863, continua atual. Em nosso tempo, marcado por julgamentos rápidos, condenações públicas e a exposição dos erros alheios, o apelo pela indulgência soa ainda mais urgente.

Assim, a indulgência não significa fechar os olhos às falhas, mas aprender a olhar para elas com a lente da compaixão e da compreensão fraternal.

O olhar da indulgência sobre os defeitos alheios

José prossegue:

“A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los. Ao contrário, oculta-os, a fim de que se não tornem conhecidos senão dela unicamente…”

Aqui se estabelece um princípio fundamental: a indulgência não é cegueira, mas discrição. É impossível viver em sociedade sem notar os erros do próximo, mas o que fazemos diante dessa constatação é o que define nosso grau de indulgência.

Enquanto muitos se apressam a denunciar, expor ou ridicularizar, a indulgência prefere o silêncio respeitoso. Não se trata de conivência, mas de amor. Há uma diferença abissal entre encobrir por cumplicidade e encobrir por fraternidade. No primeiro caso, sustentamos o erro; no segundo, evitamos humilhar o culpado, oferecendo-lhe oportunidade de reerguer-se sem o peso da condenação pública.

Essa postura remete diretamente ao ensinamento de Jesus: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mateus 7:1).

A escusa plausível: o exercício da compreensão

O Espírito instrui:

“… e, se a malevolência os descobre, tem sempre pronta uma escusa para eles, escusa plausível, séria…”

O indulgente não nega o erro, mas procura explicá-lo a partir das limitações humanas. Ele busca um motivo atenuante, um contexto, uma fragilidade que leve a compreender o ato.

Isso não significa justificar o mal como se fosse bem. A escusa indulgente não é desonesta, mas realista. Sabe que ninguém erra por prazer absoluto no erro, mas por ignorância, fraqueza ou circunstâncias adversas.

Ao buscar uma escusa plausível, o indulgente oferece ao faltoso não apenas compreensão, mas também confiança. Essa atitude ergue e consola, em vez de esmagar e condenar.

A indulgência no ato de corrigir

José ressalta:

“A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de os atenuar tanto quanto possível.”

Esse trecho é de imensa importância. Ele ensina que, quando necessário corrigir, deve-se fazê-lo de modo útil, com amor e cuidado. A indulgência não se omite diante do mal, mas não expõe nem agrava.

Quantas vezes, em nome da “verdade”, agimos com dureza desnecessária, ferindo corações que poderiam ser despertados pelo simples gesto de compreensão? O indulgente, ao corrigir, lembra-se sempre de que sua função é erguer, e não esmagar.

Jesus mesmo corrigia com firmeza, mas sem humilhar. A adúltera, prestes a ser apedrejada, foi advertida com ternura: “Vai e não peques mais” (João 8:11). Eis o exemplo maior de indulgência ativa.

O perigo da crítica e da censura

José questiona:

“Quando criticais, que consequência se há de tirar das vossas palavras? A de que não tereis feito o que reprovais, visto que estais a censurar; que valeis mais do que o culpado.”

A crítica severa, longe de ajudar, alimenta o orgulho. Quem censura coloca-se em posição de superioridade moral, como se estivesse acima do erro. No entanto, todos nós, em maior ou menor grau, também tropeçamos.

A indulgência, ao contrário, nos coloca em pé de igualdade com o irmão em queda. Reconhecemos que poderíamos estar em seu lugar, cometendo as mesmas faltas, se submetidos às mesmas condições. Essa consciência gera humildade.

Assim, a censura torna-se perigosa, porque alimenta o orgulho em quem critica e a revolta em quem é criticado.

O exame da própria consciência

O Espírito insiste:

“Ó homens! quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos?”

Aqui está o cerne do ensinamento: antes de olhar para fora, devemos olhar para dentro. A indulgência nasce do autoexame. Quem se conhece, reconhece sua fragilidade e passa a compreender a fragilidade alheia.

Jesus já advertira: “Por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu?” (Mateus 7:3).

A indulgência, portanto, não é apenas atitude externa, mas fruto de profunda reforma íntima. Só é indulgente quem é humilde.

Severos consigo, indulgentes com os outros

José orienta:

“Sede, pois, severos para convosco, indulgentes para com os outros.”

Esse é um princípio de equilíbrio. Muitas vezes fazemos o oposto: somos brandos conosco e rigorosos com o próximo. A indulgência autêntica exige a inversão desse comportamento.

A severidade para consigo é vigilância moral, esforço de autotransformação. Já a indulgência para com o outro é respeito ao processo evolutivo alheio.

Esse duplo movimento – rigor íntimo e doçura externa – é o caminho da verdadeira fraternidade.

A justiça divina e a justiça humana

José lembra:

“Lembrai-vos daquele que julga em última instância, que vê os pensamentos íntimos de cada coração…”

Aqui se evidencia a diferença entre a justiça humana e a divina. Enquanto os homens julgam pelas aparências, Deus julga pelas intenções. Quantas vezes condenamos alguém sem conhecer o motivo real de seus atos?

A indulgência, portanto, é também exercício de confiança em Deus. Sabemos que Ele conhece cada coração e julgará com sabedoria perfeita.

A força transformadora da indulgência

Por fim, José conclui:

“Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita.”

Aqui está a síntese: a indulgência é força de união, pacificação e estímulo. É como um bálsamo que cura feridas, enquanto o rigor exagerado age como veneno que as agrava.

No convívio familiar, social e mediúnico, a indulgência é ferramenta indispensável para manter a harmonia. Onde há indulgência, há paz; onde falta, surgem discórdias.

Conclusão

A mensagem de José, Espírito Protetor, contida no item 16 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, é um convite atemporal à prática da indulgência.

Ela nos ensina a não expor os defeitos alheios, a buscar sempre uma escusa plausível, a corrigir com suavidade e a evitar censuras que apenas alimentam o orgulho. Mostra-nos que a indulgência nasce do autoexame, da severidade para consigo e da humildade em relação ao próximo.

Mais do que uma virtude moral, a indulgência é um caminho seguro para a paz interior e a harmonia coletiva. É um exercício de amor em ação, capaz de transformar relações humanas e de aproximar-nos da verdadeira essência do Evangelho de Jesus.

Que cada um de nós, iluminados por esse ensinamento de José, aprenda a cultivar a indulgência em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar, recordando sempre que ser indulgente é ser profundamente cristão.