6 de agosto de 2025

Consciência, Sensações e Vontades das Plantas

Por O Redator Espírita
Avatar de O Redator Espírita

Consciência, Sensações e Vontades das Plantas à Luz da Doutrina Espírita

No campo da Filosofia Espírita, a compreensão da vida em suas múltiplas manifestações é ponto fundamental para a ampliação do conhecimento espiritual. Dentre os reinos da natureza, o vegetal ocupa lugar singular na escala evolutiva dos seres, sendo um elo indispensável entre o mineral e o animal. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, nos convida a estudar com profundidade e discernimento essa etapa da criação divina, sempre respeitando os limites da Revelação e os critérios racionais do Espiritismo.

Neste artigo, propomos uma reflexão aprofundada sobre a consciência, as sensações e as vontades das plantas, tomando por base exclusiva as perguntas 586, 587 e 588 de O Livro dos Espíritos, suas respostas e os comentários oferecidos pelo Espírito Miramez na obra Filosofia Espírita, através da mediunidade de João Nunes Maia. Ao longo da exposição, trataremos de esclarecer o que é possível compreender a partir da Revelação Espírita, evitando conjecturas desnecessárias e mantendo o foco na evolução espiritual dos seres.

A Consciência nas Plantas: O que é e o que não é

Pergunta 586 – Têm as plantas consciência de que existem?

Allan Kardec dirige esta questão aos Espíritos superiores no Livro dos Espíritos, e a resposta é clara e direta:

“Não, pois que não pensam; só têm vida orgânica.”

Essa afirmação já nos apresenta um ponto essencial: a consciência exige pensamento, e as plantas não possuem esse atributo. A vida vegetal, apesar de dotada de organização biológica, não é animada por um princípio inteligente consciente de si mesmo como no caso dos animais ou, em maior grau, dos seres humanos.

O que nos diz Miramez

Na obra Filosofia Espírita, o Espírito Miramez aprofunda o tema em um tom didático e espiritualizado:

“Certamente que as plantas não pensam; a vida delas é orgânica, movida pela vitalidade que se encontra em tudo, como agente de Deus.”

Miramez confirma a ausência de pensamento e, portanto, de consciência no sentido pleno, mas ressalta que as plantas estão sob a influência da energia divina que tudo movimenta e vivifica. A vitalidade, enquanto força de manutenção da vida orgânica, atua como um princípio universal, mas não deve ser confundida com consciência individualizada.

O autor espiritual também destaca um ponto de extrema relevância: as plantas são assistidas por Espíritos superiores e por Espíritos da natureza. Isso nos abre à compreensão de que, embora não possuam consciência própria, as plantas são constantemente influenciadas, guiadas e até utilizadas como instrumentos pelos Espíritos que trabalham em favor da harmonia da criação.

O Princípio Vital como Fundamento da Vida Vegetal

A vitalidade nas plantas se apresenta como manifestação daquilo que Kardec denominou “princípio vital”. Não se trata, portanto, de uma alma individual ou de um ser pensante, mas de uma força intermediária entre a matéria e o espírito, uma energia organizada e regulada pelas Leis Divinas.

As Sensações nas Plantas: Impressões sem Dor

Pergunta 587 – Experimentam sensações? Sofrem quando as mutilam?

A resposta dos Espíritos Superiores novamente nos guia com precisão doutrinária:

“Recebem impressões físicas que atuam sobre a matéria, mas não têm percepções. Conseguintemente, não têm a sensação da dor.”

O que nos é revelado aqui é a diferença entre impressão física e sensação consciente. As plantas, ao serem cortadas, por exemplo, reagem biologicamente, mas essa reação não é acompanhada de percepção consciente ou de sofrimento no molde humano ou animal. Trata-se de resposta orgânica, mecânica, que se opera nos tecidos vegetais, mas não de dor psíquica.

A perspectiva de Miramez

No comentário intitulado Sensibilidade das Plantas, Miramez nos oferece uma reflexão profunda:

“Quando as plantas são mutiladas, não sentem dor como os homens, claro que não; no entanto, a ‘dor’ é sentida em outra dimensão.”

Aqui, o Espírito não contradiz a resposta dos Espíritos Superiores, mas amplia a visão espiritual do fenômeno. Ele nos sugere que existe um tipo de registro energético ou sensível em outra dimensão, possivelmente nos campos sutis que compõem a estrutura espiritual da natureza. Tal ideia não implica em sofrimento moral, mas em uma forma de resposta vibratória, ainda incompreensível para a ciência atual e mesmo para os estudiosos do plano espiritual.

Miramez também utiliza a analogia com a dor de Jesus no Calvário, afirmando que aquela dor não se igualava à dos homens, pois se dava em outro campo de percepção. Essa analogia tem o objetivo de diferenciar os níveis de sensibilidade entre os seres, respeitando a diversidade evolutiva.

As Variações Evolutivas no Reino Vegetal

Outro aspecto relevante apontado por Miramez é a diversidade entre as espécies vegetais:

“As plantas silvestres são mais grosseiras, as domésticas mais suaves.”

Isso mostra que o reino vegetal está em progresso. O autor espiritual sugere que as plantas que convivem com o homem passam por um processo de sutilização, recebendo influência emocional e vibracional dos humanos. Essa interação, segundo ele, impulsiona o reino vegetal rumo a uma intelectualização futura da matéria, ainda que de forma embrionária.

A Vontade nas Plantas: A Força que Atrai

Pergunta 588 – Independe da vontade delas a força que as atrai umas para as outras?

Os Espíritos respondem:

“Certo, porquanto não pensam. É uma força mecânica da matéria, que atua sobre a matéria, sem que elas possam a isso opor-se.”

Esse ensinamento esclarece que não há vontade nas plantas. A atração que observamos entre vegetais, raízes e até em reações químicas ou biológicas é fruto de leis materiais, estabelecidas por Deus, mas que não dependem de uma vontade individual ou de um impulso consciente.

A Trajetória de Miramez sobre a Atração Mútua

No texto Atração Mútua, Miramez desenvolve poeticamente a ideia da interação entre os vegetais:

“Elas se reúnem com maior fulgor nas matas, por lei de afinidade e de harmonia. Se os homens pudessem ver como elas se entrelaçam pelas raízes […]”

Embora não haja vontade própria, existe entre as plantas um campo de harmonia vibracional, que as aproxima e interliga. Miramez vê nisso a expressão do amor divino manifestando-se na matéria, e destaca que essa atração se observa não apenas no reino vegetal, mas em todos os outros reinos da criação — inclusive entre os Espíritos.

O Espírito também aponta que a interação energética entre plantas e seres humanos não é neutra. A forma como tratamos os outros reinos interfere diretamente em nossa vibração espiritual. A lei da afinidade, portanto, também age sobre os Espíritos que nos cercam. Ele conclui:

“Somente atraímos seres e Espíritos da nossa estirpe; a atração mútua nos mostra que somos iguais.”

A Interligação entre os Reinos da Natureza

Miramez nos convida a enxergar a criação como uma cadeia de evolução contínua e interdependente. As plantas, que evoluíram do reino mineral, preparam o ambiente para o reino animal. Este, por sua vez, colabora para o desenvolvimento do ser humano. E o homem, ao atingir a razão, deve se tornar o guardião consciente dos reinos anteriores.

“Em cada reino da natureza há uma sutil ligação com o que ficou para trás e o que está na dianteira.”

A doutrina espírita nos ensina que tudo na criação tem um propósito, e que a lei de progresso atua incessantemente sobre todos os seres. Mesmo que as plantas não possuam consciência, sensações conscientes ou vontade própria, elas são parte viva do grande plano divino, evoluindo sob a supervisão dos Espíritos e sob a ação das leis naturais.

Considerações Finais

A análise minuciosa das perguntas 586, 587 e 588 de O Livro dos Espíritos, bem como dos comentários do Espírito Miramez, permite-nos compreender com profundidade o papel das plantas na criação divina. As ideias fundamentais que podemos extrair são:

  • As plantas não têm consciência nem pensamento.
  • As sensações que experimentam são apenas impressões físicas, sem dor moral ou psíquica.
  • A atração entre elas ocorre por força mecânica da matéria, sem qualquer vontade individual.
  • Mesmo sem consciência, as plantas estão em evolução e sob assistência espiritual.
  • A interação entre os reinos é dinâmica, fluida e cheia de significados espirituais.

O espírita, ao tomar conhecimento dessas verdades, deve desenvolver respeito e amor pelos reinos inferiores, reconhecendo o papel essencial que cada um desempenha no equilíbrio da vida. Além disso, deve empenhar-se em viver com responsabilidade moral, por compreender que sua própria vibração influencia os ambientes e os seres ao redor.

Como Miramez bem resume:

“Ama todos os reinos da natureza e experimenta esse amor, que somente essa virtude singular pode te dar paz no coração e felicidade na consciência.”

Conclusão

A Doutrina Espírita não se limita à análise da vida humana ou à comunicação com o mundo espiritual. Ela abarca a totalidade da criação, convidando-nos à educação do sentimento, ao cultivo do respeito universal e à vivência do Evangelho em sua mais ampla dimensão. As plantas, mesmo sem consciência, sensações conscientes ou vontade, são instrumentos sagrados na oficina do Pai, e devem ser tratadas com reverência, gratidão e amor.