18 de novembro de 2024

Homem de Bem em um Cenário de Fascinação

Por O Redator Espírita
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Ação do Homem de Bem em um Cenário de Fascinação: Reflexões sobre a Pergunta 476 de O Livro dos Espíritos

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece aos seus estudiosos um vasto campo de conhecimento sobre a interação entre o mundo espiritual e o material. Um dos temas mais relevantes é a influência que os Espíritos podem exercer sobre os encarnados, especialmente nos casos de obsessão e fascinação.

Na pergunta 476 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga sobre a possibilidade de uma terceira pessoa intervir em um caso de fascinação, e qual deve ser a condição moral dessa pessoa para obter êxito nessa intervenção. A resposta dada pelos Espíritos superiores, bem como o comentário do espírito Miramez na obra Filosofia Espírita, oferecem um rico material de reflexão sobre a importância da moralidade na ação daqueles que desejam auxiliar os subjugados por influências espirituais negativas.

Neste artigo, abordaremos de forma detalhada o conceito de fascinação, o papel do “homem de bem” e a importância da pureza moral para a eficácia de qualquer intervenção espiritual. Nosso objetivo é aprofundar a análise, conectando os ensinamentos de Kardec e Miramez ao contexto prático das interações espirituais, elucidando como a fascinação pode ocorrer de forma sutil e como o verdadeiro poder sobre os Espíritos inferiores reside na retidão moral e na vivência dos ensinamentos cristãos.

O Fenômeno da Fascinação

Antes de adentrarmos a questão específica da intervenção de terceiros em casos de fascinação, é importante compreender o que caracteriza esse tipo de influência espiritual. A fascinação é uma forma de obsessão em que o Espírito inferior exerce um controle sobre o pensamento do encarnado, de maneira sutil e muitas vezes imperceptível.

Ao contrário da obsessão simples, em que a pessoa pode perceber a presença de uma influência externa, na fascinação o indivíduo acredita estar agindo por conta própria, sendo seus pensamentos e decisões aparentemente espontâneos.

Essa ilusão é o que torna a fascinação especialmente perigosa, pois o fascinado geralmente nega estar sob influência espiritual, rejeitando conselhos e advertências. Os Espíritos que fascinam são astutos e utilizam de artifícios para manter o subjugado em uma condição de cegueira moral, explorando suas fraquezas e inclinações.

É comum que o fascinado seja levado a acreditar em ideias errôneas, enaltecendo seus próprios pensamentos e julgando-se superior ou especial em algum aspecto, o que dificulta ainda mais sua libertação.

Miramez, em seu comentário, descreve como essa influência pode adentrar os intervalos dos pensamentos humanos, de forma sutil, introduzindo ideias que, pouco a pouco, modificam a conduta e a forma de pensar do subjugado. Este processo é tão delicado que, em muitos casos, apenas uma pessoa com alta sensibilidade moral é capaz de detectar a presença dessa influência espiritual.

A Intervenção de Terceiros: O Papel do Homem de Bem

A pergunta central da questão 476 de O Livro dos Espíritos trata da possibilidade de uma terceira pessoa fazer cessar a fascinação de outra. A resposta dada pelos Espíritos superiores é clara ao afirmar que isso é possível, desde que essa pessoa seja “um homem de bem” e que sua moralidade seja suficiente para atrair os bons Espíritos e afastar os maus. No entanto, há uma ressalva importante: mesmo a intervenção mais bem-intencionada não surtirá efeito se o subjugado não colaborar ou se encontrar em uma situação de fascinação que lhe agrade.

Aqui, emerge a primeira lição importante sobre o papel do intercessor. O “homem de bem” é alguém que não apenas conhece os princípios da Doutrina Espírita e os ensinamentos cristãos, mas que os vivencia plenamente. Sua moralidade e pureza de coração são os verdadeiros instrumentos de sua eficácia espiritual.

Como afirma Miramez, o homem de bem carrega consigo uma força moral tão intensa que sua simples presença pode afastar os Espíritos inferiores, que se sentem impacientes e desconfortáveis diante de sua pureza.

Essa força moral não é uma habilidade adquirida superficialmente, mas sim o resultado de um processo profundo de reforma íntima, de domínio dos próprios instintos e desejos, e de uma adesão sincera aos ensinamentos do Cristo. O Evangelho é o caminho pelo qual o homem de bem se moraliza e adquire o poder de influenciar positivamente o ambiente espiritual ao seu redor.

Condições Morais e Sucesso na Intervenção

A eficácia de qualquer intervenção espiritual depende, em grande parte, das condições morais de quem tenta auxiliar o subjugado. A resposta da pergunta 476 é enfática ao dizer que aqueles que não tiverem o coração puro não exercerão influência alguma sobre os Espíritos. Isso é reiterado por Miramez, que alerta para o fato de que Espíritos inferiores não respeitam aqueles que não possuem autoridade moral, chegando a discutir e até insultar pessoas que tentam intervir sem a devida preparação moral.

Este ponto é crucial para a compreensão do poder espiritual. Na Doutrina Espírita, a autoridade sobre os Espíritos inferiores não se impõe pela força ou pela inteligência, mas pela retidão de caráter. A moral elevada é o que diferencia o verdadeiro homem de bem daqueles que, por mais instruídos que sejam, ainda não viveram a transformação interior necessária para exercer uma influência positiva no plano espiritual.

Miramez reforça a ideia de que o “ambiente puro”, criado pela presença do homem de bem, é suficiente para afastar os Espíritos ignorantes. Esses Espíritos não suportam a vibração elevada gerada por uma alma moralizada, preferindo se retirar em busca de ambientes mais condizentes com suas próprias vibrações inferiores. Isso nos leva a uma reflexão importante: a limpeza espiritual não se faz apenas por palavras ou orações vazias, mas pela vivência diária de uma vida reta e pura.

O Livre-arbítrio e a Responsabilidade do Fascinado

Outro aspecto relevante que a pergunta 476 aborda é a questão do livre-arbítrio. Mesmo que a pessoa que tenta intervir seja um homem de bem, e tenha a assistência dos bons Espíritos, seu sucesso será limitado se o fascinado não colaborar. Isso ocorre porque, em muitos casos, a fascinação atende aos desejos e gostos do subjugado, que, ainda que inconscientemente, pode preferir continuar sob aquela influência.

Aqui, vemos a importância do autoconhecimento e da vigilância moral. O processo de fascinação só é possível quando o fascinado oferece brechas em sua conduta moral ou emocional. Essas brechas podem ser pequenos vícios, vaidades ou desejos não corrigidos, que servem como portas de entrada para as influências espirituais inferiores. O fascinado, portanto, possui uma responsabilidade direta em sua própria libertação, pois sem o desejo sincero de mudança e reforma íntima, a intervenção de terceiros terá pouco ou nenhum efeito.

A Reforma Íntima como Caminho para a Libertação

Miramez, em sua análise, traz uma conclusão valiosa: a verdadeira libertação das influências espirituais negativas só será completa quando o indivíduo se empenhar na reforma íntima. Não basta que um homem de bem interceda e afaste temporariamente o Espírito obsessor; é necessário que o subjugado mude sua forma de pensar, conserte seus erros e se alinhe aos princípios morais elevados.

A reforma íntima é, portanto, o caminho definitivo para a libertação de qualquer tipo de obsessão ou fascinação. Quando o indivíduo se moraliza e adere aos valores do Evangelho, ele cria um campo vibratório que repele automaticamente as influências espirituais inferiores.

Espíritos obsessores e fascinadores não encontram ambiente propício para suas ações em uma mente e coração purificados. Além disso, o auxílio dos bons Espíritos torna-se mais constante e efetivo, pois estes se aproximam naturalmente daqueles que vibram em sintonia com o bem.

A Responsabilidade das Organizações Espíritas

Outro ponto levantado por Miramez é a responsabilidade das organizações espíritas na disseminação do exemplo moral. Ele menciona que os dirigentes dessas instituições devem ser exemplos vivos do que significa ser um homem de bem. Ao darem o exemplo, eles incentivam os demais a seguirem o mesmo caminho de moralização e prática dos ensinamentos do Cristo.

A organização espírita, portanto, não é apenas um local de estudo teórico, mas deve ser um ambiente onde a prática do bem seja vivida em sua plenitude. Isso cria um campo vibracional elevado, que serve de proteção contra as influências espirituais inferiores, ao mesmo tempo que atrai Espíritos superiores dispostos a auxiliar os que buscam a luz.

Conclusão

A fascinação, como forma de obsessão, representa um desafio espiritual que exige uma intervenção criteriosa e baseada em princípios morais elevados. O papel do homem de bem, como descrito na pergunta 476 de O Livro dos Espíritos e no comentário de Miramez, é fundamental para que qualquer tentativa de libertação seja bem-sucedida. No entanto, essa intervenção só será eficaz se o fascinado estiver disposto a colaborar e a buscar sua própria reforma íntima.

O caminho para a verdadeira libertação passa, inevitavelmente, pela moralização e pela vivência dos ensinamentos do Cristo. A pureza de coração e a retidão de caráter são os verdadeiros escudos contra as influências espirituais negativas, e somente aqueles que se empenham sinceramente na reforma íntima poderão desfrutar da paz e da proteção que os bons Espíritos oferecem.

Que possamos, portanto, nos inspirar nos exemplos dos homens de bem e buscar, cada vez mais, nos moralizar para que nossas ações e pensamentos estejam sempre em sintonia com o bem e com a luz. A vigilância e a oração, como ensinou Jesus, são as chaves para evitar a fascinação e manter nossa mente e coração alinhados com os princípios elevados da vida espiritual.