Insensibilidade nos Convulsionários
A Causa da Insensibilidade nos Convulsionários à Época da Codificação
No vasto universo das descobertas e reflexões que compõem a Doutrina Espírita, a questão 483 de “O Livro dos Espíritos” se destaca como um ponto de encontro entre a fé, a ciência e o entendimento da dimensão espiritual do ser humano. Ao abordar a insensibilidade física observada em convulsionários e em outros submetidos a torturas extremas, a resposta dos Espíritos Superiores, juntamente com as análises de Allan Kardec e o comentário do espírito Miramez, oferece uma rica oportunidade de compreensão sobre os mecanismos que transcendem a matéria.
A Pergunta e a Resposta no Contexto Espírita
Kardec pergunta:
“Qual a causa da insensibilidade física que se observa em alguns convulsionários, assim como em outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas?”
A resposta dos Espíritos Superiores revela uma dupla perspectiva:
Efeito do Magnetismo: A ação magnética, assim como de certas substâncias, pode influenciar o sistema nervoso, reduzindo ou anulando a sensibilidade.
Exaltação do Pensamento: Quando o pensamento se exalta, a sensibilidade do corpo pode ser embotada. É como se a vida se retirasse parcialmente do corpo para concentrar-se no espírito. Exemplos disso podem ser vistos em situações em que uma forte ocupação mental impede a percepção de dores ou desconfortos físicos.
Essa explicação nos remete à compreensão de que a conexão entre corpo e espírito é maleável, permitindo que fatores espirituais e psicológicos influenciem profundamente o estado físico.
A Nota de Allan Kardec
Kardec complementa a resposta com uma análise elucidativa sobre o fenômeno, observando situações concretas em que a insensibilidade se manifesta. Ele menciona que:
Exaltação Fanática e Entusiasmo: Esses estados podem neutralizar a sensibilidade como um anestésico natural. Exemplos históricos mostram cristãos enfrentando torturas com calma e soldados feridos que continuam a lutar sem perceber suas lesões.
Ação dos Espíritos e a Disposição Natural: A interferência espiritual, em muitos casos, se limita a aproveitar disposições naturais do indivíduo. Quando a causa é meramente natural e exacerbada por circunstâncias externas, pode ser controlada por medidas apropriadas, como a intervenção de uma autoridade pública.
Essa nota de Kardec é fundamental para diferenciar os fenômenos que são originados diretamente pela influência espiritual daqueles que têm uma raiz predominantemente física ou psicológica.
A Visão de Miramez: A Causa da Insensibilidade
No texto intitulado “A Causa da Insensibilidade”, presente na obra Filosofia Espírita, o espírito Miramez aprofunda o tema e oferece uma perspectiva espiritual e moral rica em significados:
A Fé como Fator Isolante: Miramez enfatiza que a fé é a principal causa da insensibilidade diante da dor. A verdadeira fé, filha da caridade e mãe da esperança, tem o poder de canalizar a atenção para algo maior, neutralizando os efeitos da dor física.
Fé e Magnetismo: A relação entre magnetizador e magnetizado também é destacada, mostrando que a confiança e a fé no magnetizador criam uma sintonia que permite alcançar estados de insensibilidade.
Fanatismo e Perigo: Apesar de reconhecer o poder do fanatismo em produzir insensibilidade, Miramez alerta para os riscos da fé cega. Ele exalta a evolução da fé cega para a fé raciocinada e, posteriormente, para a fé intuitiva, como um caminho de progresso espiritual.
Análise e Reflexão sobre os Aspectos Apresentados
A conjunção das ideias apresentadas pelos Espíritos Superiores, por Kardec e por Miramez nos conduz a algumas reflexões importantes:
A Fé como Instrumento de Poder: A fé verdadeira é uma força capaz de transformar a realidade do indivíduo, não apenas no plano espiritual, mas também no físico. Quando orientada pela razão e pela compreensão das leis divinas, torna-se um recurso inestimável para superar desafios.
O Papel do Magnetismo: O magnetismo, como força natural, demonstra o quanto o corpo humano pode ser influenciado por fatores externos e pela sintonia entre indivíduos. Essa relação nos recorda que o universo é regido por leis naturais, que se estendem além do que percebemos.
Fanatismo versus Fé Raciocinada: O fanatismo, embora poderoso, pode levar ao desequilíbrio e à irracionalidade. A Doutrina Espírita, ao promover a fé raciocinada, orienta os indivíduos para uma vivência consciente e equilibrada da espiritualidade.
Interferência Espiritual: A ação dos Espíritos, sejam superiores ou inferiores, demonstra a complexidade das relações entre o plano espiritual e o material. A sintonia é sempre o fator determinante para estabelecer essas conexões.
Conclusão
A exploração da causa da insensibilidade nos convulsionários à época da Codificação Espírita nos revela a interconexão entre os aspectos físicos, psicológicos e espirituais da vida humana. Por meio da compreensão do magnetismo, da exaltação do pensamento e da influência da fé, percebemos que a dor e a insensibilidade não são meramente fenômenos corporais, mas expressões de uma realidade muito mais ampla e profunda.
A Doutrina Espírita nos convida a transcender o materialismo e a explorar as potências do espírito. Nesse processo, a fé raciocinada e o estudo constante se tornam os alicerces para uma vida espiritual mais plena, permitindo-nos compreender e aplicar essas verdades em nosso cotidiano. Assim, aproximamo-nos cada vez mais do ideal de perfeição moral e espiritual que a Doutrina Espírita propõe.