2 de junho de 2025

Os Deuses

Por O Redator Espírita
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Os Deuses: Uma Perspectiva Espírita sobre a Intervenção dos Espíritos na Natureza

Ao longo dos milênios, as civilizações humanas ergueram mitologias, criaram panteões e personificaram forças da natureza como deuses. O trovão passou a ter um nome. O vento, um rosto. A chuva, uma vontade própria. Nos templos da Antiguidade, sacerdotes reverenciavam divindades que se acreditava controlarem todos os aspectos da vida e da Terra. Zeus, Poseidon, Thor, Osíris, entre tantos outros nomes, povoaram o imaginário humano e tornaram-se símbolos de um tempo em que o invisível se explicava pela fantasia revestida de fé.

Mas, e se os antigos não estivessem completamente enganados? E se, por detrás da roupagem mitológica, houvesse uma verdade espiritual ainda não decifrada? Allan Kardec, ao tratar da pergunta 537 em O Livro dos Espíritos, nos oferece uma chave para compreender esse enigma milenar. A Doutrina Espírita, com sua clareza e bom senso, aponta que a mitologia dos antigos, ainda que envolta em símbolos e incompreensões, era uma tentativa — legítima — de explicar o mundo espiritual que os cercava.

Neste artigo, vamos explorar profundamente essa questão, examinando a resposta dada pelos Espíritos a Kardec, a pergunta complementar que ajuda a elucidar o tema, e principalmente, a análise extraordinária do Espírito Miramez, constante da obra Filosofia Espírita, através da psicografia de João Nunes Maia, onde são trazidas informações espirituais de imensa importância para a nossa compreensão da vida e da natureza.

A Pergunta 537: Um Novo Olhar sobre os Deuses

“A mitologia dos antigos se fundava inteiramente em ideias espíritas, com a única diferença de que consideravam os Espíritos como divindades. Representavam esses deuses ou esses Espíritos com atribuições especiais. Assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de presidir ao fenômeno da vegetação, etc. Semelhante crença é totalmente destituída de fundamento?”

E os Espíritos Superiores respondem com notável firmeza:

“Tão pouco destituída é de fundamento, que ainda está muito aquém da verdade.”

Essa resposta, por si só, já desafia muitos preconceitos modernos. Ela nos convida a reconhecer que a mitologia, em seu núcleo, contém elementos autênticos de percepção espiritual, ainda que envoltos em equívocos e exageros simbólicos. Os deuses do passado, segundo a resposta, nada mais eram do que Espíritos encarregados de tarefas específicas na manutenção do equilíbrio natural, confundidos com divindades pela limitação dos povos antigos.

A Função dos Espíritos na Natureza

Kardec, buscando aprofundar o entendimento, faz a seguinte pergunta adicional:

“Poderá então haver Espíritos que habitem o interior da Terra e presidam aos fenômenos geológicos?”

A resposta é clara:

“Tais Espíritos não habitam positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm. Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.”

O esclarecimento contido nesta resposta desmonta uma visão simplista sobre a atuação dos Espíritos. Eles não habitam literalmente os lugares onde atuam, mas atuam por força do pensamento e pela manipulação fluídica, organizando e dirigindo os fenômenos naturais segundo as leis divinas que regem o universo.

Estamos diante de uma afirmação que nos revela um universo vivo, organizado e dirigido por inteligências espirituais. A Terra não está entregue ao acaso ou a meras forças cegas da física e da química. Há um planejamento espiritual, um comando elevado que vela por todos os aspectos da vida material.

A Leitura de Miramez: Os Deuses como Espíritos Superiores

É a partir daqui que entra em cena o Espírito Miramez, através da obra Filosofia Espírita, trazendo-nos uma das mais belas e lúcidas interpretações sobre o tema. Miramez começa por afirmar, com clareza:

“Certamente que não existem deuses. Os antigos classificavam os Espíritos agentes de Deus como sendo deuses menores, por não compreenderem as leis do Senhor manifestando-se em tudo e garantindo a vida por onde quer que seja.”

Ou seja, os chamados “deuses” da Antiguidade eram Espíritos altamente evoluídos, designados por Deus para funções específicas na administração da natureza e da vida. Não eram entidades divinas, mas instrumentos conscientes da Vontade Divina, executores do Plano Maior. A ignorância dos homens, aliada à sua tendência de personificar e mitificar tudo o que não compreendiam, deu origem à figura dos deuses mitológicos.

Miramez amplia nossa visão espiritual ao descrever um verdadeiro sistema organizacional espiritual da Terra. Segundo ele, existe uma hierarquia de Espíritos incumbidos das mais diversas tarefas, que vão desde o comando das forças da natureza até a direção de lares, cidades e nações. Ele afirma:

“A lavoura, a pecuária, as matas, as serras, as cachoeiras, os rios, os mares, as chuvas, os ventos, os pássaros, os peixes, as flores, os animais, as tribos indígenas, as indústrias, os homens, os lares, as cidades, os estados, as nações, e a própria Terra têm seus cortejos de almas na sua direção…”

Não se trata de uma crença panteísta ou mitológica, mas de um princípio de ordem divina, onde cada elemento da Criação é acompanhado por inteligências espirituais que colaboram na manutenção do equilíbrio, do crescimento e da harmonia da vida.

A Presença Oculta na Vida Cotidiana

Miramez nos adverte de maneira sublime que:

“Em torno de ti, e dentro da tua casa, no teu trabalho, e mesmo no teu lazer, se encontram muitos Espíritos te vigiando, te ajudando e, por vezes, te perseguindo, de acordo com a tua índole.”

Isso nos mostra que a atuação dos Espíritos não se restringe aos grandes fenômenos da natureza. Eles estão ao nosso redor, constantemente, influenciando, inspirando ou mesmo testando nossas reações, dependendo da nossa vibração mental, moral e emocional. A Doutrina Espírita nos oferece os instrumentos para conviver com essa realidade espiritual de forma consciente, responsável e edificante.

Portanto, não há lugar para a indiferença ou para o misticismo irracional. A presença dos Espíritos é lei natural. Não depende de crença. Existe, age, educa, coordena. O Espiritismo apenas nos ajuda a enxergar essa verdade e vivê-la com sabedoria.

Espíritos da Natureza: Guardiões do Equilíbrio Vital

Entre as mais belas revelações de Miramez está a existência dos chamados “Espíritos da Natureza”, que têm por missão a preservação da vida em todos os seus aspectos. Segundo ele:

“Existem os Espíritos da natureza, cujo trabalho é o de preservar a vida estuante em toda parte, e eles devolvem aos homens a soma da devastação que a ignorância impulsiona.”

Esses Espíritos não apenas ajudam a manter o equilíbrio natural, mas também atuam como instrumentos de justiça, permitindo que a natureza reaja diante dos abusos da humanidade. A devastação ambiental, por exemplo, não passa despercebida no mundo espiritual. Ela acarreta reações que envolvem Espíritos especializados na manutenção dos ecossistemas, que, dentro dos limites permitidos por Deus, atuam para restaurar o que foi violado.

A Força do Pensamento e os Fenômenos Geológicos

Outra revelação importante está relacionada à forma como os Espíritos atuam na matéria. Miramez esclarece que os Espíritos que presidem os fenômenos geológicos não precisam habitar fisicamente o interior da Terra:

“Esse trabalho é feito pela força do pensamento, por manipulações de fluidos, que são colocados neste ou naquele lugar, e que a química se encarrega de fazer manifestar.”

A ação dos Espíritos se dá no campo fluídico, energético, etéreo. Eles não movem placas tectônicas com as mãos, mas atuam sobre os fluidos que influenciam a matéria, de maneira semelhante ao que ocorre nos fenômenos de materialização ou desmaterialização no campo mediúnico. Essa é a ciência do futuro, anunciada pela Doutrina Espírita — uma ciência em que o pensamento será reconhecido como força causal, capaz de organizar a matéria em nível mais profundo.

Um Sistema Universal de Cooperação

Miramez conclui seu ensinamento com uma visão abrangente e consoladora:

“Se existe um Diretor para a Terra, no caso Jesus Cristo, essa mesma lei abrange toda a criação, em todos os sentidos que podes pensar, e que ainda escapa às tuas deduções. Deus, o Supremo Mandatário do Universo, comanda toda a vida, onde ela palpita, usando todos os Seus filhos para o co-comando de todas as coisas…”

Esse trecho encerra o verdadeiro espírito da Doutrina Espírita: um universo organizado, solidário, colaborativo, em que cada Espírito — seja encarnado ou desencarnado — coopera com Deus na realização do bem, na preservação da vida e na ascensão da Criação. Não há ociosidade na espiritualidade. Há trabalho, responsabilidade e harmonia.

Conclusão

A Doutrina Espírita resgata e esclarece a antiga crença nos deuses, colocando-a em seu devido lugar: não como fantasia religiosa, mas como percepção distorcida de uma realidade espiritual legítima. Os deuses do passado são, na verdade, Espíritos superiores que, por atribuição divina, colaboram na condução dos fenômenos naturais e sociais da vida planetária.

Cabe a nós, espíritas conscientes, elevar o nosso entendimento, compreendendo que nada no universo está abandonado à sorte ou ao caos. Existe uma ordem superior regida pelo amor, pela sabedoria e pela justiça. E essa ordem é executada por legiões de Espíritos trabalhadores do bem, sob o comando de Jesus e a inspiração de Deus.

Longe de mitificar, o Espiritismo esclarece, racionaliza e espiritualiza as antigas crenças, convidando-nos à reverência não aos deuses imaginários, mas à presença amorosa do Criador que se manifesta em todas as coisas vivas, através de Seus mensageiros e servidores.

Essa verdade, acolhida com humildade e gratidão, transforma nosso modo de viver, educa nossos pensamentos e purifica nossas relações com a natureza, com os semelhantes e com a espiritualidade.