8 de agosto de 2025

Perdão das Ofensas

Por O Redator Espírita
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Perdão das Ofensas: Um Chamado à Grandeza da Alma

À luz do ensinamento de Simeão em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Capítulo X, item 14

“Quantas vezes perdoarei a meu irmão?” — Essa pergunta, dirigida por Pedro ao Mestre Jesus, ecoa ainda hoje nas consciências humanas como um clamor pela compreensão do perdão em sua forma mais elevada. A resposta de Cristo, registrada no Evangelho e comentada de forma magistral pelo Espírito Simeão em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo X, item 14, constitui não apenas um conselho, mas um verdadeiro código moral para a humanidade.

O presente artigo visa oferecer uma reflexão profunda e minuciosa sobre esse trecho específico, extraindo dele todas as implicações éticas, espirituais e comportamentais que devem nortear a vida do espírita sincero. A leitura e análise cuidadosa do texto de Simeão nos conduz à compreensão de que o perdão não é apenas um ato, mas uma conquista espiritual contínua, exigida de todos os que aspiram ao progresso moral.

O Perdão Segundo Jesus: A Lógica da Misericórdia Infinita

Logo no início do texto, Simeão remete à célebre pergunta de Pedro: “Quantas vezes perdoarei a meu irmão?” — à qual Jesus responde: “Não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes”. Aqui, não se trata de uma medida matemática, mas de uma indicação simbólica da incondicionalidade do perdão. Jesus convida o ser humano à libertação das contabilidades morais, das mágoas acumuladas e da rigidez da justiça humana, para entrar no campo da misericórdia divina.

Simeão reforça que este é um dos ensinos de Jesus que mais “vos devem percutir a inteligência e mais alto falar ao coração”. Ou seja, trata-se de um ensinamento que ultrapassa a moral comum e exige reflexão profunda — uma doutrina que almeja transformar o homem por dentro.

A Vinculação com a Oração Dominical

O Espírito ainda nos propõe um exercício de comparação: a lição do perdão encontra eco direto na oração ensinada por Jesus, o “Pai Nosso”. Quando dizemos “perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos aos que nos têm ofendido”, pedimos uma medida de perdão igual àquela que somos capazes de conceder. Isso compromete-nos diretamente a perdoar para sermos perdoados.

Simeão sugere, pois, que ao confrontar a lição de Pedro com a prece dominical, encontramos coerência, continuidade e reforço. O mesmo pensamento de misericórdia paira sobre ambos os ensinamentos, e isso deve nos chamar à responsabilidade moral diante do perdão.

A Prática do Perdão como Autossuperação Espiritual

Jesus ensina, conforme Simeão, a um “esquecimento de si mesmo” que nos torna “invulneráveis ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias”. O perdão autêntico, então, começa na renúncia ao orgulho ferido. A criatura que verdadeiramente perdoa não é aquela que nega o sofrimento causado pela ofensa, mas a que já compreendeu que o bem maior é sua própria paz interior e crescimento espiritual.

Brando e Humilde de Coração

Simeão reproduz a própria fala do Cristo: “Sereis brando e humilde de coração”. Essa disposição não é fraqueza, mas força interior. Perdoar infinitamente exige energia moral e uma convicção profunda na Justiça Divina. O perdão não é a negação do erro alheio, mas a opção por não revidar, não alimentar o mal, não se aprisionar ao ressentimento.

A Mansuetude Ilimitada

“Sede brando… sem medir a vossa mansuetude”, nos orienta Simeão. O termo “sem medir” é fundamental: trata-se de um perdão sem reservas, sem exceções, sem cálculos ou condições. Uma mansuetude espontânea, que brota da consciência desperta para a lei do amor.

A Justiça de Deus como Modelo e Estímulo

Simeão nos convida a observar a atitude de Deus diante de nossas próprias faltas: “Conta porventura as vezes que o seu perdão desce a te apagar as faltas?” Aqui se estabelece o maior argumento a favor do perdão: o exemplo divino. Deus perdoa incessantemente. Assim, somos chamados a imitar o Pai celeste na prática do amor que tudo compreende e tudo redime.

É nesse sentido que perdoar não é somente um dever moral; é também um exercício de filiação divina. Quando perdoamos, nos aproximamos de Deus, imitamos sua indulgência e nos tornamos instrumentos de sua paz.

O Espelho da Misericórdia Divina

Ao mostrar que Deus perdoa continuamente e sem número, Simeão estabelece uma referência: “Fazei vós o mesmo.” O amor divino é o padrão ético para os que desejam evoluir. Toda vez que julgarmos difícil perdoar, devemos lembrar das inúmeras vezes que o Pai nos perdoou, silenciosamente, com bondade e paciência.

O Perdão como Caminho de Ascensão

Ao dizer: “Perdoai, que o Senhor vos perdoará; abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos, que o Senhor fará vos assenteis à sua direita”, Simeão mostra a dinâmica espiritual do perdão. Não há progresso real sem humildade. O perdão nos eleva porque dissolve as cargas emocionais, energéticas e espirituais que nos aprisionam.

A Lei de Retorno Moral

O Espírito utiliza uma lógica direta: “Dai, que o Senhor vos restituirá”. O que damos ao mundo, recebemos de volta. Perdoar é semear a paz e colher o alívio. É abandonar a mágoa para receber a graça. Portanto, o perdão não beneficia apenas o ofensor, mas antes de tudo, liberta o ofendido.

A Profundidade Moral do Ensinamento

“Estudai e comentai estas palavras”, exorta Simeão. A prática do perdão exige compreensão. Não basta repetir que perdoamos; é preciso internalizar o princípio e aplicar em todas as ocasiões. Isso exige estudo, vigilância, esforço e compromisso.

O Esquecimento Real das Ofensas

“Perdoai aos vossos irmãos, como precisais que se vos perdoe.” A sinceridade do perdão é proporcional à sua profundidade. Não se trata de tolerância fingida ou superficial, mas de um real esquecimento do mal, conforme Jesus ensinava. Isso implica vigilância dos sentimentos, reeducação dos pensamentos e constante exercício de caridade interior.

O Mérito Proporcional ao Sofrimento

“Porquanto o mérito do perdão é proporcionado à gravidade do mal.” Esta afirmação desmonta qualquer dúvida sobre a grandeza do perdão verdadeiro. Quanto mais dolorosa a ofensa, mais sublime é a disposição de perdoar. Isso valoriza o esforço da alma ferida que, mesmo sob dor, escolhe amar.

O Perdão como Prova de Autenticidade Espírita

“Espíritas, jamais vos esqueçais…” — Simeão se dirige diretamente aos que se dizem espíritas, exigindo coerência entre a crença professada e o comportamento adotado. O perdão das ofensas não pode ser uma expressão vazia, uma formalidade religiosa, mas um ato contínuo de transformação íntima.

O Perdão Realizado em Pensamentos e Atos

“Aquele que enveredou por esse caminho não tem que se afastar daí, ainda que por pensamento.” A exigência é clara: até os pensamentos devem ser puros. Deus não observa apenas as ações exteriores, mas penetra as intenções mais íntimas. Portanto, o espírita deve vigiar seu mundo interior, expurgando qualquer resquício de rancor, orgulho ou vingança.

A Responsabilidade pelos Pensamentos

“Uma vez que sois responsáveis pelos vossos pensamentos…” Essa observação é especialmente importante. A Doutrina Espírita nos ensina que os pensamentos são forças reais, que nos conectam a faixas vibratórias específicas, e que têm consequências espirituais. Por isso, nutrir ressentimentos em silêncio é tão danoso quanto agir com hostilidade.

A Paz da Consciência: Fruto do Perdão

“Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo.” Esta é a marca do verdadeiro discípulo do Cristo. A paz que se instala na consciência daquele que perdoa sinceramente é incomparável. Ela é, ao mesmo tempo, sintoma de equilíbrio e promessa de ascensão.

O Perdão como Expressão Suprema do Amor

O texto de Simeão, profundo e luminoso, é um convite para que cada um de nós examine seu coração à luz do Evangelho. O perdão, longe de ser fraqueza, é virtude das almas grandes. É ato de coragem moral, de renúncia ao egoísmo, de maturidade espiritual.

Ao estudarmos minuciosamente esse item de O Evangelho Segundo o Espiritismo, percebemos que o perdão é muito mais do que uma obrigação ética: é um caminho seguro para a verdadeira liberdade do espírito. É por meio do perdão que quebramos os grilhões do passado, dissolvemos os vínculos do ódio, restauramos a fraternidade e caminhamos, passo a passo, rumo à perfeição a que fomos destinados.