Plantas Aparentemente Sensíveis
Plantas Aparentemente Sensíveis e o Que Nos Diz a Doutrina Espírita

Ao longo da história da humanidade, o ser humano observou atentamente os fenômenos da natureza, buscando compreender sua origem, seu funcionamento e seus propósitos. Entre esses fenômenos, as reações de certas plantas, como a sensitiva (Mimosa pudica) e a dioneia (Dionaea muscipula), sempre despertaram curiosidade e até perplexidade. Ao responder rapidamente a estímulos externos, retraindo-se ou realizando movimentos coordenados, essas plantas parecem expressar algo mais do que simples vida vegetativa, sugerindo, à primeira vista, uma “sensibilidade” ou até uma “vontade”.
Mas será que tais manifestações indicam pensamento? Será que plantas desse tipo constituem um estágio intermediário entre o reino vegetal e o animal? Haveria nelas algo que pudesse ser chamado de consciência?
A Doutrina Espírita, ao abordar a questão na pergunta nº 589 de O Livro dos Espíritos, fornece esclarecimentos preciosos, que vão muito além da curiosidade científica, oferecendo uma visão integrada dos reinos da natureza e da lei de progresso. A resposta da espiritualidade, Allan Kardec e, posteriormente, o Espírito Miramez nos ajudam a compreender que tais fenômenos, longe de serem meras coincidências, revelam a ordem harmoniosa da Criação e o caminho evolutivo traçado por Deus para todos os seres.
Neste estudo, analisaremos detidamente a questão 589 e sua resposta, a nota de Kardec e o comentário de Miramez, aprofundando a compreensão da natureza desses movimentos vegetais e do lugar que ocupam no grande esquema da evolução espiritual. Também refletiremos sobre o valor espiritual dessa observação e o que ela nos ensina sobre nós mesmos.
O fenômeno das plantas sensíveis
A sensitiva e a dioneia são exemplos de vegetais que respondem de forma visível a estímulos externos.
- A sensitiva recolhe suas folhas ao toque, como se buscasse se proteger de uma possível agressão.
- A dioneia, por sua vez, possui folhas modificadas que funcionam como armadilhas, fechando-se rapidamente quando um inseto toca seus pelos sensoriais, aprisionando-o e digerindo-o posteriormente.
À primeira vista, esses movimentos podem parecer ações conscientes, como se a planta estivesse “pensando” ou “planejando” capturar o inseto. É essa impressão que leva Kardec a formular a pergunta 589, buscando saber se tais vegetais seriam dotados de vontade, pensamento ou se formariam uma classe intermediária entre os reinos vegetal e animal.
A resposta dos Espíritos
A resposta dada é clara e objetiva:
“Tudo em a Natureza é transição, por isso mesmo que uma coisa não se assemelha a outra e, no entanto, todas se prendem umas às outras. As plantas não pensam; por conseguinte carecem de vontade. Nem a ostra que se abre, nem os zoófitos pensam: têm apenas um instinto cego e natural.”
Aqui encontramos alguns pontos essenciais:
- Tudo é transição
A natureza é um contínuo, onde cada reino apresenta características que o aproximam do reino imediatamente superior. Não há saltos abruptos na obra divina, mas passagens graduais. - As plantas não pensam
Apesar de apresentarem reações aos estímulos, essas respostas não resultam de um raciocínio, mas de mecanismos automáticos. - Instinto cego e natural
A palavra “instinto”, neste contexto, não se refere ao instinto consciente que podemos observar em animais superiores, mas a reações programadas pela própria constituição orgânica, sem participação da vontade.
A nota de Allan Kardec: a analogia com o corpo humano
Kardec complementa com uma observação didática:
“O organismo humano nos proporciona exemplo de movimentos análogos, sem participação da vontade, nas funções digestivas e circulatórias. O piloro se contrai, ao contacto de certos corpos, para lhes negar passagem. O mesmo provavelmente se dá na sensitiva, cujos movimentos de nenhum modo implicam a necessidade de percepção e, ainda menos, da vontade.”
Essa analogia é muito importante:
Assim como certos movimentos do corpo humano acontecem automaticamente (como batimentos cardíacos ou reflexos involuntários), sem intervenção do pensamento consciente, as reações da sensitiva e da dioneia são respostas automáticas da sua estrutura, determinadas pela programação biológica e pelas leis da vida vegetal.
A visão ampliada do Espírito Miramez
O comentário de Miramez contido na obra Filosofia Espírita, através da mediunidade de João Nunes Maia, aprofunda o tema, situando-o no contexto maior da evolução universal. Entre os pontos mais importantes que ele nos traz, destacam-se:
A transição entre os reinos
Miramez reafirma que “na natureza tudo está em estado de transição”. Cada reino da criação apresenta características herdadas do anterior e prepara o surgimento do seguinte. Assim:
- Mineral → apresenta organização simples, mas já manifesta propriedades que servirão ao vegetal.
- Vegetal → mais sensível que o mineral, capta estímulos e os transforma em reações, aproximando-se do animal.
- Animal → manifesta sensibilidade mais ampla, instintos desenvolvidos e movimentos voluntários.
- Homem → agrega à sensibilidade e ao instinto a razão, o pensamento contínuo e a consciência moral.
A interdependência dos reinos
Todos os reinos da natureza necessitam uns dos outros, numa rede de trocas incessantes:
- O homem precisa dos vegetais para o alimento, o oxigênio, a medicina.
- Os vegetais precisam dos minerais para sua nutrição.
- Os animais precisam dos vegetais e, em muitos casos, estes se beneficiam dos animais para reprodução (polinização, dispersão de sementes).
Essa rede demonstra a inteligência divina que sustenta a vida.
Sensibilidade não é pensamento
Mesmo as plantas mais sensíveis, segundo Miramez, não pensam. A sensibilidade nelas é apenas um mecanismo mais apurado, resultado de sua evolução no reino vegetal. O pensamento e o livre-arbítrio surgem apenas com o homem, que ao dominar suas ideias, inicia seu caminho consciente.
A programação divina
Miramez observa que, assim como o corpo humano possui funções automáticas comandadas pelo subconsciente, as plantas operam segundo uma programação divina que garante sua sobrevivência e perpetuação. Essa “inteligência” não é pessoal, mas sim da própria natureza, expressão da vontade de Deus.
A lei do progresso aplicada aos reinos da natureza
Um dos pontos mais belos que emergem dessa questão é a certeza de que nada na criação é estático. O progresso não é privilégio do homem; ele alcança todos os reinos.
- Mineral: pela ação do tempo, da pressão, da temperatura, transforma-se, serve de suporte ao vegetal.
- Vegetal: desenvolve estruturas, mecanismos de defesa, adaptação ao ambiente, reprodução mais eficiente.
- Animal: amplia capacidades sensoriais, memória, instintos elaborados, no rumo da consciência.
- Homem: é o espírito em estágio de razão e responsabilidade moral, convidado ao progresso espiritual consciente.
Assim, as plantas sensíveis como a dioneia e a sensitiva não são “meio animais”, mas sim etapas refinadas do vegetal, já apresentando mecanismos que prenunciam as complexidades do reino seguinte.
O que a Doutrina Espírita nos ensina com isso
A Doutrina Espírita nos convida a olhar esses fenômenos de forma integrada, vendo a natureza como um organismo vivo e em constante aperfeiçoamento. Algumas lições espirituais podem ser extraídas:
- Respeito por todos os reinos
Cada ser cumpre seu papel na harmonia do todo, merecendo nosso respeito e cuidado. - Humildade diante da sabedoria divina
Mesmo o mais simples mecanismo vegetal é resultado de uma engenharia perfeita, que ainda não compreendemos totalmente. - Percepção da continuidade evolutiva
Nada surge pronto. Cada estágio prepara o seguinte, num fluxo contínuo determinado por Deus. - Reconhecimento de que pensamento é atributo do Espírito
O pensamento consciente, a formação de ideias e o livre-arbítrio são características do Espírito humano encarnado, não dos reinos inferiores.
Reflexão final
A observação das plantas sensíveis, à luz da Doutrina Espírita, nos conduz a uma compreensão mais ampla da vida. Não se trata de negar a complexidade e a beleza desses mecanismos, mas de colocá-los no lugar que lhes corresponde na escala evolutiva.
O estudo da questão 589 nos mostra que:
- Todos os reinos estão interligados, sustentando-se mutuamente.
- O pensamento consciente é patrimônio do Espírito humano, mas sua semente divina está latente em toda a criação.
Assim, diante de uma sensitiva que se retrai ao toque ou de uma dioneia que se fecha sobre um inseto, podemos admirar não apenas o fenômeno físico, mas sobretudo a sabedoria do Criador que, passo a passo, conduz todos os seres à perfeição.