11 de agosto de 2025

Plantas Aparentemente Sensíveis

Por O Redator Espírita
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Plantas Aparentemente Sensíveis e o Que Nos Diz a Doutrina Espírita

Ao longo da história da humanidade, o ser humano observou atentamente os fenômenos da natureza, buscando compreender sua origem, seu funcionamento e seus propósitos. Entre esses fenômenos, as reações de certas plantas, como a sensitiva (Mimosa pudica) e a dioneia (Dionaea muscipula), sempre despertaram curiosidade e até perplexidade. Ao responder rapidamente a estímulos externos, retraindo-se ou realizando movimentos coordenados, essas plantas parecem expressar algo mais do que simples vida vegetativa, sugerindo, à primeira vista, uma “sensibilidade” ou até uma “vontade”.

Mas será que tais manifestações indicam pensamento? Será que plantas desse tipo constituem um estágio intermediário entre o reino vegetal e o animal? Haveria nelas algo que pudesse ser chamado de consciência?

A Doutrina Espírita, ao abordar a questão na pergunta nº 589 de O Livro dos Espíritos, fornece esclarecimentos preciosos, que vão muito além da curiosidade científica, oferecendo uma visão integrada dos reinos da natureza e da lei de progresso. A resposta da espiritualidade, Allan Kardec e, posteriormente, o Espírito Miramez nos ajudam a compreender que tais fenômenos, longe de serem meras coincidências, revelam a ordem harmoniosa da Criação e o caminho evolutivo traçado por Deus para todos os seres.

Neste estudo, analisaremos detidamente a questão 589 e sua resposta, a nota de Kardec e o comentário de Miramez, aprofundando a compreensão da natureza desses movimentos vegetais e do lugar que ocupam no grande esquema da evolução espiritual. Também refletiremos sobre o valor espiritual dessa observação e o que ela nos ensina sobre nós mesmos.

O fenômeno das plantas sensíveis

A sensitiva e a dioneia são exemplos de vegetais que respondem de forma visível a estímulos externos.

  • A sensitiva recolhe suas folhas ao toque, como se buscasse se proteger de uma possível agressão.
  • A dioneia, por sua vez, possui folhas modificadas que funcionam como armadilhas, fechando-se rapidamente quando um inseto toca seus pelos sensoriais, aprisionando-o e digerindo-o posteriormente.

À primeira vista, esses movimentos podem parecer ações conscientes, como se a planta estivesse “pensando” ou “planejando” capturar o inseto. É essa impressão que leva Kardec a formular a pergunta 589, buscando saber se tais vegetais seriam dotados de vontade, pensamento ou se formariam uma classe intermediária entre os reinos vegetal e animal.

A resposta dos Espíritos

A resposta dada é clara e objetiva:

“Tudo em a Natureza é transição, por isso mesmo que uma coisa não se assemelha a outra e, no entanto, todas se prendem umas às outras. As plantas não pensam; por conseguinte carecem de vontade. Nem a ostra que se abre, nem os zoófitos pensam: têm apenas um instinto cego e natural.”

Aqui encontramos alguns pontos essenciais:

  1. Tudo é transição
    A natureza é um contínuo, onde cada reino apresenta características que o aproximam do reino imediatamente superior. Não há saltos abruptos na obra divina, mas passagens graduais.
  2. As plantas não pensam
    Apesar de apresentarem reações aos estímulos, essas respostas não resultam de um raciocínio, mas de mecanismos automáticos.
  3. Instinto cego e natural
    A palavra “instinto”, neste contexto, não se refere ao instinto consciente que podemos observar em animais superiores, mas a reações programadas pela própria constituição orgânica, sem participação da vontade.

A nota de Allan Kardec: a analogia com o corpo humano

Kardec complementa com uma observação didática:

“O organismo humano nos proporciona exemplo de movimentos análogos, sem participação da vontade, nas funções digestivas e circulatórias. O piloro se contrai, ao contacto de certos corpos, para lhes negar passagem. O mesmo provavelmente se dá na sensitiva, cujos movimentos de nenhum modo implicam a necessidade de percepção e, ainda menos, da vontade.”

Essa analogia é muito importante:

Assim como certos movimentos do corpo humano acontecem automaticamente (como batimentos cardíacos ou reflexos involuntários), sem intervenção do pensamento consciente, as reações da sensitiva e da dioneia são respostas automáticas da sua estrutura, determinadas pela programação biológica e pelas leis da vida vegetal.

A visão ampliada do Espírito Miramez

O comentário de Miramez contido na obra Filosofia Espírita, através da mediunidade de João Nunes Maia, aprofunda o tema, situando-o no contexto maior da evolução universal. Entre os pontos mais importantes que ele nos traz, destacam-se:

A transição entre os reinos

Miramez reafirma que “na natureza tudo está em estado de transição”. Cada reino da criação apresenta características herdadas do anterior e prepara o surgimento do seguinte. Assim:

  • Mineral → apresenta organização simples, mas já manifesta propriedades que servirão ao vegetal.
  • Vegetal → mais sensível que o mineral, capta estímulos e os transforma em reações, aproximando-se do animal.
  • Animal → manifesta sensibilidade mais ampla, instintos desenvolvidos e movimentos voluntários.
  • Homem → agrega à sensibilidade e ao instinto a razão, o pensamento contínuo e a consciência moral.

A interdependência dos reinos

Todos os reinos da natureza necessitam uns dos outros, numa rede de trocas incessantes:

  • O homem precisa dos vegetais para o alimento, o oxigênio, a medicina.
  • Os vegetais precisam dos minerais para sua nutrição.
  • Os animais precisam dos vegetais e, em muitos casos, estes se beneficiam dos animais para reprodução (polinização, dispersão de sementes).

Essa rede demonstra a inteligência divina que sustenta a vida.

Sensibilidade não é pensamento

Mesmo as plantas mais sensíveis, segundo Miramez, não pensam. A sensibilidade nelas é apenas um mecanismo mais apurado, resultado de sua evolução no reino vegetal. O pensamento e o livre-arbítrio surgem apenas com o homem, que ao dominar suas ideias, inicia seu caminho consciente.

A programação divina

Miramez observa que, assim como o corpo humano possui funções automáticas comandadas pelo subconsciente, as plantas operam segundo uma programação divina que garante sua sobrevivência e perpetuação. Essa “inteligência” não é pessoal, mas sim da própria natureza, expressão da vontade de Deus.

A lei do progresso aplicada aos reinos da natureza

Um dos pontos mais belos que emergem dessa questão é a certeza de que nada na criação é estático. O progresso não é privilégio do homem; ele alcança todos os reinos.

  • Mineral: pela ação do tempo, da pressão, da temperatura, transforma-se, serve de suporte ao vegetal.
  • Vegetal: desenvolve estruturas, mecanismos de defesa, adaptação ao ambiente, reprodução mais eficiente.
  • Animal: amplia capacidades sensoriais, memória, instintos elaborados, no rumo da consciência.
  • Homem: é o espírito em estágio de razão e responsabilidade moral, convidado ao progresso espiritual consciente.

Assim, as plantas sensíveis como a dioneia e a sensitiva não são “meio animais”, mas sim etapas refinadas do vegetal, já apresentando mecanismos que prenunciam as complexidades do reino seguinte.

O que a Doutrina Espírita nos ensina com isso

A Doutrina Espírita nos convida a olhar esses fenômenos de forma integrada, vendo a natureza como um organismo vivo e em constante aperfeiçoamento. Algumas lições espirituais podem ser extraídas:

  1. Respeito por todos os reinos
    Cada ser cumpre seu papel na harmonia do todo, merecendo nosso respeito e cuidado.
  2. Humildade diante da sabedoria divina
    Mesmo o mais simples mecanismo vegetal é resultado de uma engenharia perfeita, que ainda não compreendemos totalmente.
  3. Percepção da continuidade evolutiva
    Nada surge pronto. Cada estágio prepara o seguinte, num fluxo contínuo determinado por Deus.
  4. Reconhecimento de que pensamento é atributo do Espírito
    O pensamento consciente, a formação de ideias e o livre-arbítrio são características do Espírito humano encarnado, não dos reinos inferiores.

Reflexão final

A observação das plantas sensíveis, à luz da Doutrina Espírita, nos conduz a uma compreensão mais ampla da vida. Não se trata de negar a complexidade e a beleza desses mecanismos, mas de colocá-los no lugar que lhes corresponde na escala evolutiva.

O estudo da questão 589 nos mostra que:

  • Todos os reinos estão interligados, sustentando-se mutuamente.
  • O pensamento consciente é patrimônio do Espírito humano, mas sua semente divina está latente em toda a criação.

Assim, diante de uma sensitiva que se retrai ao toque ou de uma dioneia que se fecha sobre um inseto, podemos admirar não apenas o fenômeno físico, mas sobretudo a sabedoria do Criador que, passo a passo, conduz todos os seres à perfeição.