Responsabilidade dos Médiuns
A Responsabilidade dos Médiuns: Prática e Moralidade
A mediunidade, conforme nos ensina a Doutrina Espírita, é uma faculdade inerente ao ser humano, e sua prática exige grande responsabilidade, tanto no âmbito moral quanto no prático. Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, deixou claro em diversas obras, especialmente em O Livro dos Médiuns, que o médium é um intermediário entre o mundo material e o espiritual, assumindo um papel de enorme importância e impacto. Esse papel, no entanto, requer discernimento, ética e uma profunda compreensão das consequências de suas ações.
Abordaremos os principais aspectos da responsabilidade dos médiuns, tanto no que diz respeito à prática de suas faculdades mediúnicas quanto à moralidade envolvida nesse processo. Dividiremos a reflexão em quatro grandes tópicos: 1) A mediunidade como uma missão; 2) O papel moral do médium; 3) A influência espiritual e as implicações práticas da mediunidade; e 4) A necessidade de estudo, autoconhecimento e vigilância moral.
A Mediunidade como uma Missão
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, define a mediunidade como uma faculdade natural e neutra. Isto é, todos os seres humanos possuem alguma capacidade de interagir com o mundo espiritual, mesmo que em níveis muito diferentes. Porém, quando essa faculdade se manifesta de forma ostensiva, o médium assume uma missão espiritual.
Essa missão envolve não apenas a comunicação com os Espíritos, mas, acima de tudo, a responsabilidade de transmitir suas mensagens de maneira fiel e com respeito aos princípios doutrinários do Espiritismo.
A mediunidade não deve ser vista como um privilégio, mas como um compromisso. Médiuns que compreendem a grandiosidade da tarefa a eles confiada devem agir com humildade e dedicação, cientes de que suas ações podem influenciar positivamente ou negativamente as pessoas que os cercam, bem como o ambiente espiritual ao seu redor.
Conforme destaca o Espírito Erasto, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, “os médiuns são os instrumentos de que nos servimos para esclarecer os homens”.
Nesse sentido, o médium deve estar consciente de que a sua atuação vai além da mera manifestação dos Espíritos. Ele tem a responsabilidade de contribuir para o progresso moral e espiritual da humanidade, e isso exige comprometimento com o bem e com a verdade.
O Papel Moral do Médium
A moralidade é um dos aspectos mais centrais na prática mediúnica. Um dos grandes equívocos que podem surgir é o médium acreditar que sua faculdade é independente de sua conduta moral. Na verdade, o desenvolvimento de uma mediunidade equilibrada e segura está diretamente ligado ao aprimoramento ético e espiritual do médium.
O médium é, antes de tudo, um ser humano em evolução. Ele atrai Espíritos que se afinam com suas características morais e vibratórias. Portanto, quanto mais elevado for o padrão vibratório do médium, mais elevada será a qualidade das comunicações espirituais que ele receberá. Isso significa que, para ser um instrumento fiel das mensagens dos Espíritos superiores, o médium deve trabalhar constantemente em sua reforma íntima, buscando superar suas fraquezas e desenvolver virtudes como o amor ao próximo, a paciência, a humildade e a caridade.
Os Espíritos Superiores só se comunicam com médiuns que estão comprometidos com o bem. Um médium que vive em desarmonia consigo mesmo, envolvido em sentimentos negativos como o orgulho, o egoísmo ou o rancor, abre espaço para que Espíritos inferiores se aproximem, comprometendo a qualidade das mensagens recebidas.
Em O Livro dos Médiuns, Kardec adverte sobre o perigo das mistificações, ou seja, a interferência de Espíritos enganadores que se aproveitam da vaidade ou da falta de preparo moral dos médiuns.
A Influência Espiritual e as Implicações Práticas da Mediunidade
A prática mediúnica exige atenção constante quanto à influência espiritual. O médium, ao servir como canal entre o plano material e o espiritual, está sujeito a influências tanto positivas quanto negativas, e cabe a ele o dever de discernir e controlar essas influências. Por isso, é imprescindível que ele mantenha sua mente e seu coração em sintonia com os ensinamentos do Cristo, baseados no amor, no perdão e na caridade.
Além do aspecto moral, o médium deve também cuidar de sua saúde física e mental. A mediunidade é uma faculdade que se manifesta através do organismo humano, e desequilíbrios físicos ou emocionais podem comprometer o bom desempenho dessa faculdade.
Nesse sentido, o autoconhecimento é uma ferramenta fundamental para o médium, que precisa estar atento aos sinais de fadiga, estresse ou ansiedade, os quais podem prejudicar a prática mediúnica.
Outro ponto importante é a conduta ética nas reuniões mediúnicas. O médium deve ter plena consciência de que a mediunidade não é um meio para obtenção de benefícios materiais ou pessoais.
Qualquer tentativa de uso da mediunidade para fins egoístas ou comerciais contraria os princípios doutrinários do Espiritismo e gera graves consequências, tanto para o médium quanto para as pessoas envolvidas. As comunicações espirituais devem ser sempre gratuitas e desinteressadas, conforme orientado por Kardec.
A Necessidade de Estudo, Autoconhecimento e Vigilância Moral
A mediunidade, como já mencionado, é uma missão de alta responsabilidade. O médium deve dedicar-se ao estudo contínuo da Doutrina Espírita para compreender plenamente o papel que lhe cabe. O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e as obras complementares da codificação espírita são fontes indispensáveis para o aprendizado e o aperfeiçoamento do médium.
O estudo oferece ao médium o conhecimento necessário para evitar as armadilhas da vaidade, do fanatismo ou da ignorância. Além disso, ele capacita o médium a discernir a qualidade das comunicações que recebe, garantindo que apenas Espíritos comprometidos com o bem se manifestem por seu intermédio.
O autoconhecimento, por sua vez, permite ao médium identificar suas fragilidades e trabalhar para superá-las. A prática mediúnica é, muitas vezes, um desafio emocional e espiritual, e o médium que não conhece suas próprias limitações corre o risco de ser influenciado por Espíritos inferiores.
Por isso, a vigilância moral é fundamental. O médium deve estar sempre atento aos seus pensamentos, sentimentos e atitudes, buscando alinhar-se com os ensinamentos de Jesus e com os valores universais de bondade, justiça e amor.
Conclusão
A responsabilidade dos médiuns é imensa e envolve tanto o cuidado com a prática de sua faculdade quanto a vigilância constante de sua moralidade. A mediunidade é uma bênção, mas também um compromisso com a verdade, o amor e a caridade.
O médium que compreende a grandeza de sua missão deve buscar sempre o aprimoramento espiritual, a fim de servir como um canal fiel e digno das mensagens dos Espíritos Superiores.
Por fim, é importante lembrar que a mediunidade não se destina a atender aos interesses pessoais do médium, mas a auxiliar no progresso moral e espiritual da humanidade. O médium que age com responsabilidade, humildade e amor ao próximo cumpre sua missão com honra, sendo um verdadeiro trabalhador da seara do Cristo.